Sentir saudade é uma experiência comum para muitas pessoas, especialmente em momentos de mudança ou afastamento de pessoas queridas. No entanto, um novo estudo publicado em 2024 aponta que esse sentimento, tradicionalmente associado à tristeza, pode desempenhar um papel importante na redução de sintomas depressivos, especialmente entre indivíduos que enfrentam autocrítica intensa.
A pesquisa, conduzida por cientistas do King’s College de Londres em parceria com o neurocientista brasileiro Jorge Moll Neto, traz novas perspectivas para o tratamento da depressão. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, mais de 11 milhões de brasileiros convivem com a depressão atualmente.
A busca por abordagens inovadoras e personalizadas é constante, já que muitos pacientes não respondem aos tratamentos convencionais. Nesse contexto, a investigação sobre o potencial terapêutico da saudade surge como uma alternativa promissora, especialmente por se tratar de um sentimento universal e profundamente enraizado na cultura brasileira.
Como a saudade pode ajudar no tratamento da depressão?
O estudo analisou 39 participantes que apresentavam níveis elevados de autocrítica, um fator frequentemente associado ao desenvolvimento de quadros depressivos. Os voluntários foram convidados a criar um vídeo pessoal de 10 minutos, dividido em duas partes: a primeira evocava emoções negativas e autocríticas, enquanto a segunda estimulava lembranças ligadas à saudade, como fotos, músicas e vídeos de momentos felizes do passado.
Durante uma semana, os participantes assistiram diariamente ao vídeo, refletindo sobre os sentimentos despertados. Ao final do período, a maioria relatou uma diminuição dos sintomas depressivos relacionados à autocrítica. A transformação de emoções negativas em saudade, segundo os pesquisadores, permitiu que os indivíduos ressignificassem suas experiências, promovendo uma sensação de conexão e significado.
Quais os mecanismos por trás do efeito terapêutico da saudade?
A saudade, definida no estudo como um sentimento de amor por algo do passado, carrega elementos de perda, mas também de afeto e conexão. Esse aspecto dual pode ser fundamental para explicar seu potencial terapêutico. Ao revisitar memórias positivas, as pessoas tendem a experimentar emoções que fortalecem sua autoestima e proporcionam conforto emocional, reduzindo o impacto da autocrítica.