Superalimento citado 17 vezes na Bíblia se transforma em ‘ouro branco’ na Itália

Em meio aos campos de freixos da Sicília, uma tradição quase esquecida está sendo revitalizada. Giulio Gelardi, um agricultor local, lidera a recuperação da colheita do maná, uma resina branca rica em minerais, mencionada na Bíblia e usada há séculos como remédio e adoçante natural. Esta prática, que já foi comum em todo o Mediterrâneo, quase desapareceu devido à urbanização e industrialização, mas está encontrando um novo fôlego graças aos esforços de Gelardi.

O maná, extraído da casca das árvores Fraxinus ornus, é uma substância que remonta ao século 9 na Sicília, quando a ilha estava sob domínio árabe. Com um sabor doce semelhante ao da cana-de-açúcar e notas de amêndoas, o maná foi um produto lucrativo durante o Renascimento, levando o reino de Nápoles a impor impostos sobre ele no século 16. No entanto, a prática de sua colheita quase desapareceu após a Segunda Guerra Mundial, até que Gelardi decidiu reviver essa tradição.

Como é feita a colheita do maná?

A colheita do maná é uma arte que requer observação e intuição. Os agricultores fazem cortes finos na casca dos freixos durante os dias mais quentes do ano, quando a seiva é mais abundante. A técnica envolve saber o momento exato para cortar a casca, pois um corte prematuro pode interromper a produção de maná. Gelardi aprendeu essa técnica com seus pais e agora busca transmiti-la para as novas gerações.

O processo começa com a observação das folhas e do solo ao redor das árvores. Folhas que perdem a coloração verde escura e apresentam marcas amarelas indicam que a árvore está pronta para a colheita. Rachaduras no solo também são um sinal de que a árvore está produzindo seiva em excesso. Uma vez identificado o momento certo, pequenos cortes são feitos na casca, permitindo que a resina escorra lentamente.

Por que o maná é considerado um superalimento?

O maná é composto principalmente de manitol, um álcool de açúcar que é naturalmente doce, além de minerais como potássio, magnésio e cálcio. Suas propriedades suavizantes e descongestionantes fazem dele um suplemento alimentar valioso, usado para tratar prisão de ventre, tosse, dor de garganta e feridas na pele. Além disso, devido ao seu baixo índice glicêmico, o maná é uma opção de adoçante para pessoas diabéticas ou com dietas hipocalóricas.

Nos últimos anos, o maná ganhou popularidade entre chefs e confeiteiros, que o incorporaram em diversas receitas, desde doces tradicionais sicilianos até pratos gourmet. O chef Giuseppe Zingales, por exemplo, utiliza o maná em pratos como lombo de porco com cobertura de maná e risoto com aspargos e bacon.

A resina também é usada na produção de produtos farmacêuticos e cosméticos, destacando-se por suas propriedades hidratantes.

Qual é o futuro da colheita de maná na Sicília?

Graças aos esforços de Gelardi e de outros produtores, o maná das montanhas Madonie foi declarado um ingrediente protegido pela organização Slow Food, que promove tradições alimentares ameaçadas. A criação do Consórcio de Maná das Madonie em 2015 ajudou a comercializar produtos de maná e a incentivar a prática entre os jovens.

Juntamente com outros membros do consórcio, como Mario Cicero, está empenhado em garantir que a tradição da colheita do maná seja passada para as próximas gerações. Cicero, que mantém 200 freixos em sua fazenda, aprendeu a técnica com Gelardi e agora espera inspirar outros jovens a se tornarem “ntaccaluori”, ou cortadores de maná.

Para Gelardi, cada jovem que aprende a colher maná ajuda a preservar uma tradição secular, garantindo que o “ouro branco” da Sicília continue a brilhar.

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